quinta-feira, 31 de julho de 2008

O nascedouro de uma revista


“Acho que a saída é fazer uma revista de arquitetura independente”, pensou Vicente Wissenbach. A fonte de suas preocupações era o Jornal Arquiteto - uma publicação conjunta do IAB/SP e do Sindicato de Arquitetos do Estado de São Paulo -, que ele editava desde julho de 1972, por sugestão de Alfredo Paesani, fundador do sindicato e cunhado do jornalista. Para dar peso à publicação, ambos convocaram o IAB/SP como parceiro. Foi firmado um contrato de cinco anos entre as entidades e a editora de Wissenbach, a Schema. Sem envolver dinheiro: quem pagava as contas da publicação eram os anúncios, uma vez que ela era distribuída de graça e não havia repasses das entidades. Estas, com o tempo, passaram a travar uma disputa velada por espaço e por associados. Wissenbach pensava na revista pois via incerteza no futuro da parceria de sucesso: o jornal começou com tiragem de 3,5 mil exemplares e chegou a 15 mil. “Vamos jogar tudo isso no lixo”, resmungou. Naquela mesma semana ele acertou com as duas direções que iria tentar fazer uma revista.
“Os veículos não são concorrentes”, explicou Vicente. “Enquanto o papel do primeiro é publicar notícias referentes à política profissional, o segundo terá como linha editorial a apresentação de projetos.”
Por outro lado, “há espaço editorial e comercial para isso”, relatou a um amigo. Isso porque, desde dezembro de 1971, quando a Acrópole deixou de circular, não existia nenhuma revista brasileira de arquitetura. “Imagina que a Summa, da Argentina, tem mil assinantes no Brasil”, continuou o papo.
O editor passou a testar o embrião da revista dentro do próprio Jornal, que começou a publicar alguns projetos.
“Primeiro vamos fazer um caderno de quatro páginas, depois de oito”, disse ele ao diagramador.“Como é que ela vai se chamar?”, perguntou um amigo arquiteto. “PROJETO”, respondeu Vicente. “Eu penso em criar publicações com nomes claros, que expressemde forma direta o conteúdo editorial. Se o focoda revista serão os projetos, então o nome será PROJETO”, falou. E ainda arrematou, quase como vidente: ”Se eu tiver uma revista de construção, por exemplo, vai se chamar Obra; e se for de design e interiores, o nome será Design & Interiores”.
Chamou Vivaldo Tsukumo para criar o logotipo. Depois de muito pensar na pauta da revista número 1, veio a idéia: “Temos que colocaralgo que diferencie a revista das demais publicações, voltadas para o público leigo”, pensou. “Podemos publicar indústrias: elas são facilmente atribuídas a engenheiros e, assim, iniciaremos a consolidação de mais um campode trabalho profissional para o arquiteto”, imaginou o editor.
A escolha da imagem da capa, que mostra alguns operários no interior de uma fábrica em Carapicuíba, foi questionada: “Isso não é uma provocação política, Vicente?”. E ele respondeu: “É só uma foto do Moscardi de uma fábrica pré-moldada. Olha que imagem bonita. É essa!”.
Enfim, uma das chamadas de capa da edição 44 do Jornal Arquiteto anunciava: “PROJETO: a proposta que vai virar revista”. A nota avisava os leitores que eles receberiam “uma minirrevista - que ainda vai crescer”.Nascia aí a publicação, com apenas 16 páginas.

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