sexta-feira, 11 de julho de 2008

CASA de VIDRO


Anos 1940 – Residência Lina Bo Bardi (Casa de Vidro), Lina Bo Bardi (3)
A residência Lina Bo Bardi ficou conhecida como “Casa de Vidro”, assim chamada pelos moradores da redondeza nos tempos de sua construção, quando o local ainda era uma reserva de Mata Brasileira cheia de bichos selvagens. A casa foi implantada na parte mais alta do terreno de 9 mil m² com declive bastante acentuado. Dois corpos distintos a definem: a caixa de vidro que se projeta no espaço a partir de um murro de arrimo e se apóia em delgados pilares metálicos e um segundo corpo assentado diretamente no solo. Estes corpos abrigam respectivamente os compartimentos destinados ao convívio da família e aos serviços.
A caixa de vidro por sua vez está organizada sob dois princípios espaciais que correspondem a duas lógicas estruturais: uma parede longitudinal que a atravessa, divide claramente o setor social do íntimo, sinalizando os dois momentos. No setor social os espaços do estar, jantar e biblioteca estão dispostos num continuum espacial demarcado pelos pilares soltos e por outras peças como o volume da caixa de escada, a lareira, além do vazio do jardim interno: que ainda tem a função de interligar este piso aos pilotis. Em contrapartida, no setor íntimo a divisão espacial se faz mais presente, indicando outra solução estrutural, com apoios embutidos em paredes e no arrimo. Embora as soluções para os apoios sejam distintas as demais soluções construtivas para o piso e a cobertura são as mesmas: caixão-perdido de concreto no piso e telha de fibrocimento sobre laje na cobertura.
Esta obra de Lina Bo Bardi pontua a sua longa jornada na edificação de uma poética da brasilidade: que procurou fundir aspectos de uma cultura local ao fazer mais erudito fincado na modernidade originária no seu continente de origem. Poética inventada progressivamente e sem canduras, porém, não isenta de pragmatismos circunstanciais. Nesta casa alguns aspectos já se manifestam de forma ainda embrionária. Sua inserção no meio da mata nativa é oportunidade para se evocar nossa herança naturalista. A decisão de fazê-la suspensa sobre pilotis e envidraçada demonstra o desejo de se diluir nesta paisagem e, ao mesmo tempo, fixar uma linguagem e uma tecnologia contemporânea. A planta livre caminha na mesma direção. Por outro lado, a obra é perturbada por restrições construtivas locais que contaminam a pureza e a leveza do volume ao impor de certa maneira restrições como da inclinação da cobertura. Restrições que foram posteriormente incorporadas como marca de uma linguagem.

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